tag:blogger.com,1999:blog-46104709463541881092024-02-07T01:07:59.672-08:00Ainda o mar...Uma performance dedicada a Ya Mi Omin’Inlé e a Raimundo Cerqueira, poeta vertical e horizontal.Unknownnoreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-4610470946354188109.post-1520774577046030752012-02-03T09:24:00.001-08:002015-02-04T06:09:18.819-08:00<div style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: large;">I t i n e r á r i o </span></b></div>
<br />
<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
UNO<br />
<blockquote>
Árvores citadinas<br />
Póstero<br />
Colheita<br />
Amanhecido<br />
Primeira pessoa<br />
Antípoda</blockquote>
</blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
CHUVA ALHEIA<br />
<blockquote>
Canto para Horiz<br />
Chuva Alheia<br />
Noite de Almirante<br />
Imperativo do Beija-Flor<br />
Cumplicidade<br />
Soneto para o Azul</blockquote>
</blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
CASA DE BARRO<br />
<blockquote>
Pedra da Baleia<br />
Casa de Barro<br />
Hermanadas<br />
Contemporaneidade<br />
Bogotá<br />
Placebo<br />
Passarinho Solitário </blockquote>
</blockquote>
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b><br /></b>
<b><br /></b>
<b><br /></b>
<b><br /></b>
<b><br /></b>
<b><br /></b>
<b><br /></b>
<b><br /></b>
<b>UNO</b> <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
A pesca era sempre do lado de lá. <br />
<br />
Havia uma neblina fina escondendo <br />
a outra borda do rio. Ele estava cheio, <br />
pouco a pouco foi atravessando <br />
suas pedras e o leito estreito, quase <br />
morto. <br />
<br />
Ficávamos muito tempo por ali, olhando <br />
o desenho da flor d’água <br />
estilhaçada pelo vento, <br />
<br />
que insistia arrastar aqueles barcos <br />
para outros cantos além do horizonte. <br />
<br />
Toda viagem guarda um tanto <br />
do porto, um pouco de nós, <br />
algumas doses de sustos <br />
e uma pena solitária <br />
riscando o horizonte. <br />
<br />
O rio, em verdade, <br />
estava sempre cheio, <br />
mesmo quando os barcos <br />
pisavam na lama <br />
calejando o dia <br />
com nossos pés <br />
descalços. <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b>ÁRVORES CITADINAS </b><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
A árvore sombreia o silêncio <br />
da tarde azulada. No varal, <br />
um arco-íris veste a serpente <br />
<br />
despercebida, instigando <br />
os olhos curiosos do gavião. <br />
Sobrevôo o arrebol e canto. <br />
<br />
As borboletas laminam o vento, <br />
enquanto a árvore permanece <br />
dançando à sombra do firmamento. <br />
<br />
Qual verbo escapará ao princípio humano <br />
e ao fim riscado faz tempo? E aqueles galhos, <br />
e aquela sombra? <br />
<br />
Queimam na fogueira sagrada dos homens. <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b>PÓSTERO </b><br />
Para Alcides Santana <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Palavras atam a fé <br />
no interdito entre o sol <br />
e a lua. Orientam-se <br />
o tempo todo por ali, <br />
por aqui; pelo sim, pelo não. <br />
<br />
Seguem os ponteiros dos <br />
segundos, minutos, horas <br />
a fim de voltar à Caverna: <br />
<br />
estrelas recheadas na parede <br />
de pedra e cal, aquela iluminada <br />
por espadas e pelo brilho de olhos. <br />
<br />
Um verbo aciona <br />
o lançamento das palavras <br />
e elas vão, e elas vêm; <br />
<br />
ficam atadas na claridade do sol, <br />
da lua, em nossos olhos, <br />
nas páginas rasgadas <br />
<br />
muito além do ontem, <br />
muito além do amanhã. <br />
Todavia, <br />
<br />
no papel se desfaz <br />
depois de clarear <br />
a imensidão de um livro fechado. <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b>COLHEITA </b><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Regar os olhos <br />
à flor da pele <br />
sem a gota d’água <br />
entardecida. <br />
<br />
Qualquer horizonte, <br />
no risco da mão, <br />
avermelha <br />
a tarde despida <br />
em nossos braços. <br />
<br />
Cada pétala <br />
espinha o cheiro <br />
esvaído da paixão <br />
desenhada no gira sol <br />
apontado para o sagrado <br />
coração de Jesus: risco <br />
universal da retidão. <br />
<br />
<br />
O azul modelando a tarde <br />
rajada de laranja avermelhada <br />
raspa dos olhos o segredo diário <br />
de vestir-se um dia de cada vez. <br />
<br />
Sujos de tempo. <br />
Com lágrimas... café preto, <br />
vinho, enchemos a mesa e o prato vazio. <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b>AMANHECIDO </b><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Amanhecer flor orvalhada <br />
na primavera escolhida <br />
pela estrela maior, sem dores <br />
de ontem, nem do futuro, <br />
<br />
se agora a lei é lapidar <br />
cada pétala com o cheiro <br />
de brisa caída suave sobre <br />
os minutos que nos levam <br />
a lugar nenhum. <br />
<br />
Lá vem um brilho, e outros tantos, <br />
a escuridão, dimensões do longe, <br />
dos laços enfeitados daquele sapato <br />
que surge do nada. <br />
<br />
Não há necessariamente desejo <br />
de entendimento: um brilho é um brilho, <br />
uma flor orvalhada é aquela que nos mata <br />
a cede na manhã escolhida. <br />
<br />
Voar por entre rosas <br />
sem ferir espinhos <br />
revelar-se cor, <br />
<br />
tragando uma gota de orvalho. <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b>PRIMEIRA PESSOA </b><br />
À Iya Mi Omin’inlê <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
A primeira vez que vi a lua <br />
havia um risco entre as estrelas <br />
e uma poesia incandescente <br />
galopando em meu peito. <br />
<br />
A primeira vez que o mar <br />
esticou meus olhos para longe <br />
da margem esquerda de meu destino <br />
floresceu um Messias no jardim de meus quintais. <br />
<br />
Na primeira vez, havia cinzas <br />
das páginas derradeiras do medo. <br />
<br />
Na segunda, a lua ensolarava <br />
o silêncio do universo. <br />
<br />
Na terceira, o mar batizava <br />
nossos passos para o infinito. <br />
<br />
Desde então, navego habitado <br />
por espelhos e pedras polidas <br />
<br />
de onde avistamos <br />
o vazio. <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b>ANTÍPODA </b><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Esculpindo o silencio <br />
aprisiono um pássaro. <br />
Ele está no canto da parede <br />
<br />
pálida, rebuscando o barulho <br />
desatento de tantos dias livres. <br />
Voar desbota fronteiras. <br />
<br />
Ele pousa, à noite, seu destino estrelado <br />
na fogueira de árvores inteiras. <br />
A madeira estalando labaredas <br />
<br />
é um canto de carretilha <br />
esfolando o silêncio talhado <br />
na parede desenhada. Pássaro <br />
<br />
e canto... Ele sonha e livra o silêncio <br />
de sombras presas aos nossos olhos <br />
envaidecidos de incansáveis faíscas. <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b><br />
</b><br />
<b>CANTO PARA HORIZ </b><br />
a Cartagena de Índia, <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Pôr o sol em teu mar <br />
navegando em tua pele <br />
um cavalo marinho. <br />
<br />
Preciso mergulho <br />
silenciado no olhar <br />
claro azul celeste. <br />
<br />
Esgotada a noite, <br />
leve brisa sobrevoa <br />
tua armadura rósea <br />
iluminando o retorno <br />
do vasto dia cavalgado. <br />
<br />
Não há pássaros <br />
sobre a flor d`água transbordada, <br />
apenas luz, lacrimejada, <br />
<br />
oferecendo-nos o horizonte. <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b>CHUVA ALHEIA </b><br />
<br />
A noite vai crescendo apavorante <br />
E dentro do meu peito, no combate, <br />
A Eternidade esmagadora bate <br />
Numa dilatação exorbitante. <br />
<br />
Augusto dos Anjos. <br />
<br />
<br />
o mar estica o horizonte desesperado, <br />
invade cada lágrima dos olhos de Deus. <br />
<br />
chove esticado no horizonte, enquanto <br />
corpos rolam e toda chuva lança harmonias <br />
<br />
no vento tocado nos coqueiros. Chove. <br />
corpos mapeiam suas danças alheias <br />
<br />
na areia. Venta, uma nuvem passa, <br />
um nó na garganta estrangula o silêncio <br />
e nada alheio dentro do vazio. <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b>NOITE DE ALMIRANTE </b><br />
<br />
<span style="font-size: x-small;">Triste amor que me separa </span><br />
<span style="font-size: x-small;">De minha terra e de tudo, </span><br />
<span style="font-size: x-small;">Amor que engole os minutos </span><br />
<span style="font-size: x-small;">Como cobra engole o rabo, </span><br />
<span style="font-size: x-small;">Amor que aponta o caminho </span><br />
<span style="font-size: x-small;">Mas não dá o itinerário, </span><br />
<span style="font-size: x-small;">Amor que arma suas velas </span><br />
<span style="font-size: x-small;">Mas depois afunda o barco. </span><br />
<br />
<i>Miryam Fraga </i><br />
<br />
<br />
Quando escapam destinos <br />
à beira do farol, a noite entorpece o sol <br />
<br />
erguendo-se mar adentro. <br />
Inocência alisada bordando arrepios <br />
<br />
em louco cio de fêmea navegada. <br />
Mapas? Não os quero resolvidos. <br />
<br />
Todo barco guarda seu porto emudecido. <br />
Preciso é esse farol que espedaça luz <br />
<br />
onde se arrasta o sol. No coro vivo, <br />
unhas no peito, e nelas o lodo <br />
<br />
ofegante de amores à deriva. <br />
Enxugada a lágrima, saudades. <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b><br />
</b><br />
<b>IMPERATIVO DO BEIJA-FLOR </b><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Navegada em si, <br />
<br />
todos os portos <br />
invadem manhãs <br />
neste cheiro doce <br />
de mulher desenhada. <br />
<br />
Onde alimenta suada <br />
a clara voz do dia ? <br />
<br />
Onde tua flor regada <br />
feri o sentido riscado na pele ? <br />
<br />
Em chão rueiro, <br />
me orvalha invadida, <br />
voando sobre jardins ... <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b>CUMPLICIDADE </b><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Nosso amor <br />
não cabe na monotonia <br />
do dia de amanhã. <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b>SONETO PARA O AZUL </b><br />
<br />
<span style="font-size: x-small;">O paraíso é onde o coração bate mais forte </span><br />
<span style="font-size: x-small;">E, olha, eu tenho o meu aqui: toca nele, é teu, dorme. </span><br />
<span style="font-size: x-small;">O destino nunca bate à porta </span><br />
<span style="font-size: x-small;">A penas entra sorrateiro. </span><br />
<br />
<i>Kátia Borges </i><br />
<br />
<br />
A fita azul amarrada em teu passo <br />
reflete céu e barcos soprando ondas <br />
jogadas na areia, desfazendo pegadas <br />
que nenhum farol guiou, mas ilumina. <br />
<br />
Arrebenta e parte cada palavra <br />
pregada na saliência aguardada. <br />
Essa presença sentida no toque <br />
se ajeita no peito guardado nu. <br />
<br />
Nesse imenso azul flutua só, pássaro <br />
lavando a alma em bem-me-quer: pouso <br />
arriado em mulher despetalada, <br />
<br />
em lençol de areia iluminada, <br />
tecendo vôos, escancaradamente <br />
nascidos em leito de chão pisado. <br />
<br />
<br />
<b><br />
</b><br />
<br />
<b>PEDRA DA BALEIA </b><br />
<span style="font-size: x-small;">À Yemanjá Ogunté e Averequete </span><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
A labareda clara da lua incendeia <br />
a solidão da noite, e nada parece <br />
iluminar os olhos do dia. Apenas <br />
uma estrela amarelada apaga <br />
<br />
o canto do que poderia ser um samba empretecido <br />
cheio do rio por onde o farol segue o caminho <br />
do azul celeste e branco. De lá, da lua e do farol, <br />
<br />
margeiam a bênção em uma só mão navegada: <br />
<br />
aquela estendida no leito da fé assentada <br />
em fogo de olhos doces e serenos <br />
de um pescador em busca de alimento. <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b>CASA DE BARRO </b><br />
<span style="font-size: x-small;">Para Helena, Sophia e Boroni Arô Iku </span><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
O leite derramado dilacera <br />
a inevitável fome da vida <br />
guardada para o outro dia. <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b>HERMANADAS</b> <br />
<span style="font-size: x-small;">Para Rómulo Bustos Aguirre y las putas vírgenes de García Marques. </span><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Estoy en la Plaza del Centenario, <br />
Cartagena de Indias, pero mis pies <br />
caminan en la Heroica Cachoeira, <br />
margen izquierda del rio Paraguaçu. <br />
<br />
Estoy en la Plaza del Reloj, <br />
São Felix, en la otra margen del rio, <br />
pero camino en Cartagena de Indias. <br />
<br />
Estoy en los poemas de Pedro Blás Julio Romero. <br />
Estoy en las calles, en Getsemaní. <br />
Tal vez Raúl Gómez Jatín o un ángel clandestino <br />
me regale colores del viento, de las nubes gris, un <br />
punto de seguimiento . <br />
<br />
Estoy amurallado <br />
frente la ventana <br />
donde habito <br />
puertos de mi cuerpo <br />
<br />
lleno de lunas, <br />
danzas y nostalgia. <br />
<br />
Sin, yo escucho el reflejo <br />
de las estrellas foscas <br />
dibujadas en esta canción <br />
atragantada. Ojo hermano, <br />
<br />
ya somos silencio <br />
en blanco. <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b>CONTEMPORANEIDADE </b><br />
<span style="font-size: x-small;">A Albino Rubim </span><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Em instantes o futuro <br />
se acostumará com o passado <br />
presente frente ao espelho. <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b>BOGOTÁ </b><br />
<span style="font-size: x-small;">Ao poeta Juan Carlos Ensuncho </span><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Guardo a chuva <br />
cotidiana, habitada <br />
por caminhos distintos <br />
e insistentes pingos <br />
na frieza da cidade. <br />
<br />
Desperto o brilho <br />
do orvalho <br />
regando cores <br />
em jardins <br />
despercebidos. <br />
<br />
Sigo pássaros, o tempo eclipsa <br />
nossos olhos lacrimejados, <br />
<br />
seqüestra o aroma das ruas, <br />
das casas molhadas com raios soprados <br />
pelo sol. <br />
<br />
O tempo encanta o futuro <br />
e semeia a sombra por onde passamos <br />
em silêncio, desenhando à Santa Fé <br />
do verbo inicial. <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b>PLACEBO </b><br />
<span style="font-size: x-small;">(uso contínuo) </span><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Esse poema nasceu prematuro <br />
por excesso de folhas em branco. <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b>PAPA-CAPIM SOLITÁRIO </b><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Na avenida San Martins, <br />
bloco untado com cimento e arenoso, <br />
um em cima do outro. <br />
<br />
Paredes. Favelas. Casas. Ruas. <br />
Travessas. Vielas. Telhados, <br />
uma laje, um poste: <br />
<br />
a possibilidade iluminada <br />
de alguma esperança estendida <br />
no varal colorido de nossa pele, <br />
<br />
suor e lágrimas sem remorso, blues ou jazz. <br />
Acelera o samba do vento <br />
na mangueira, em sol maior, <br />
<br />
no azul de todo verde e amarelo <br />
e rosas cantadas. Rio as cores <br />
vestidas com nossas roupas. <br />
<br />
As roupas vestindo a nossa pele <br />
sem cor cordial definida no canto <br />
de boca cheia de dente <br />
<br />
e ouro. E outros quantos <br />
mais ou menos tentando <br />
assobiar e chupar cana <br />
no mesmo vento. <br />
<br />
Cimento e arenoso <br />
desenham paisagens <br />
sem remorsos, blues ou jazz. <br />
<br />
Eles têm a cor de parede. A cor da cidade, <br />
dos quintais, a cor de um jazz... quando <br />
fecha os olhos para dormir. <br />
<br />
As cores nascem diante de nós <br />
atados em preto e branco, <br />
no canto do passarinho voando <br />
<br />
engaiolado com Pau Brasil, na Avenida <br />
San Martins, em Salvador, <br />
na Bahia de Todos os Santos.Unknownnoreply@blogger.com4