"La poesía como actitud transmisible, como género cotidiano y como actividad pública de los sentidos necesita de la presencia de un autor anónimo que vuelva realidad el postulado según cual la poesía debe ser hecha por todos, así sea, uno solo, en nombre de todos, quien finalmente la haga. Y ésta es una vieja historia." Juan Calzadilla
"Só estou inteiro quando me divido." Raimundo Cerqueira
"Só estou inteiro quando me divido." Raimundo Cerqueira
Cada uma das flechas levava, a primeira: o Verbo.
A segunda: a Comunhão.
A Terceira: Fronteiras.
Tem sido assim ...
Foi numa manhã clara e de poucas nuvens, vento parado e folhas silenciosas. A
floresta apresentou uma ave ao caçador. E o caçador acostumado
a seguir seguro na terra e no mar, viu-se frente ao mar pela primeira vez
guiado por um Pássaro. Ele, o pássaro, dizia ser o Sinal de Terra
N’Água.
Certo dia, o Pássaro foi engaiolado e jogado ao
mar.
Os Mestres escutaram o canto daquele passarinho,
perceberam a despedida celebrada da ave. Pela naturalidade como acionava o
segredo de voar ao fundo do mar e de lá, à mais alta altitude, a ave recebeu o
sinal: o direito de untar a água profunda com a terra, e a floresta. A magia permitiu
o caminhar profundo do mar no voo desse dia. O vento forte, mar relampejado, mas
ele foi, Pássaro Real, Terra D’Água, extremidades visíveis do Aiye. O Caçador
regressou sem a ave, e tornou-se Odé Omin’Ìnlé, nome que o Pássaro recebeu
quando rompeu os elementais Terra e Água, Ar. O fogo forjava de longe o
profundo.
Recebi essa história numa manhã inesquecível, quando nas pedras banhadas de areia de Praia de Jardim de Alah, em Salvador, na Bahia. Encontrei uma garrafinha, de onde retirei essa memória gravada e decifrada. Na verdade, tratava-se de UNO – Tríade para Encantamentos: proposta alquímica de lançar-se ao horizonte. De permitir que a maestria necessária para cada voo, cada mergulho, cada passo, fosse celebrada como Verbo. Poesia. Sentido que rompe fronteiras... e as páginas dos livros, verdadeiros universos entre duas capas. São esses universos, os compartilhados aqui...
Em agosto de 2011, convidei alguns os amigos da arte e da cultura: Alexandre Gusmão, Cândida de Andrade Moraes, Juan Brizuela, Fernanda Silva, Marília Palmeira, Beatriz Moraes, João Vanderlei de Moraes Neto e Luisa Mahin para um almoço e apresentei o poemário Uno. Durante o almoço, pedi a cada um deles que escrevessem, desenhassem, pintassem, gravassem em um papel reciclado um “traço”, e o lançasse numa garrafa.
Essa garrafa seria levada aos que estivessem
presentes no Recital Ainda o Mar, em Buenos Aires, que aconteceria no dia 27 agosto
daquele ano.
Os traços e o “Recado Artístico” resultantes
daquele almoço chegaram ao destino e, lá, no mesmo Ato, os presentes foram
convidados a registrar seus traços e o “Recado Artístico” para que fossem lidos
e expostos no Ainda o Mar seguinte, na Colômbia, cidade de Cereté, e o mesmo,
até a cidade de São Félix, margem direita do rio Paraguaçu, o mesmo em
Salvador, Bahia, Brasil.
Com o recital modela-se a intervenção Ainda o
mar... na verdade, caminho estético utilizado para lançar o poemário Uno –
Tríade para Encantamentos, meu quinto feixe de poemas, e segundo lançado em
espaço hispano-americano: o primeiro foi Portuário, na Colômbia.
Uno reúne poemas dispersos em três seções com sete
poemas totalizando vinte e um, fragmentado em vinte e uma garrafas
lançadas à leitura e ao exílio do não leitor. Essas garrafas são lançadas nos
presentes Ainda o mar mergulham....
As garrafas carregam os poemas e um pouco das pessoas que participaram e participam do recital e assim “Publica-se” o poemário que não é livro, é UNO.
As impressões engarrafadas saíram da Argentina para Colômbia, da Colômbia para o Brasil trans_portadas pelo poeta João Vanderlei de Moraes Filho. Na Colômbia o recital de Tríade para Encantamentos aconteceu na Fundação Cultural Poeta Raul Gomez Jatin. Na Argentina, Buenos Aires, no CUCA-Universidade Nacional Trés de Febrero.
O último ponto navegável foi Matarandiba, na Ilha
de Vera Cruz, Bahia de Todos os Santos e a rota chegou ao seu porto final, Lisboa,
em 28 de junho de 2016.
Sejam bem vindos a acompanhar essa historia além mar...
Fraterno abraço,
João Vanderlei de Moraes Filho